E agora?
A intervenção clínica - a psicoterapia
Do ponto de vista metodológico, genericamente, a intervenção de um psicólogo clínico, divide-se em dois momentos diferentes. Num primeiro tempo, e em resposta a uma solicitação de quem o procura, o psicólogo faz uma avaliação psicológica mais global ou mais específica (consoante o motivo do pedido) e como poderá dar uma resposta. Num segundo tempo inicia-se um acompanhamento terapêutico propriamente dito. Mas sendo uma intervenção baseada na relação que se constrói entre psicólogo e paciente, é logo no primeiro contacto que se vão observando e trabalhando as componente básicas da psicoterapia - a confiança, a compreensão, a empatia, a verdade e a busca de um maior conhecimento.
Quando procuramos um psicólogo, temos a expectativa de ele poder resolver tudo aquilo que nós não conseguimos resolver, ou de mudarmos todas as características que não gostamos em nós. Ficaremos surpreendidos por isso não acontecer do modo e no tempo que desejaríamos, mas possivelmente esta constatação também já não nos inquieta tanto. Um dos principais objectivos da terapia é não só o aliviar dos sintomas que nos conduziram até ela, mas sobretudo - porque é o que ficará inscrito em nós - a abertura a uma nova perspectiva, um aprofundamento do auto-conhecimento e as possibilidades múltiplas e mais egossintónicas (de acordo com o nosso verdadeiro ser), que daí advêm.
Claro, que a diminuição do nível de angústia; a modificação de um comportamento ou atitude menos ajustado à realidade; a capacidade de respondermos melhor a nós e ao outros e obtermos um maior retorno emocional, são passos essenciais para que tenhamos o tempo e o espaço para ampliarmos o nosso existir e concretizarmos o nosso desejo - desejo aqui na abrangência do seu sentido potencial e não tanto na concretude do conceito.
O mais natural é que todos estes processos se desenrolem simultaneamente e que se desencadeie uns aos outros, pois eles são trabalhados numa relação viva, dinâmica entre terapeuta e paciente e não se auto-limitam pela rigidez que outro tipo de trabalhos podem assumir. Por isso, é que é difícil estipular, inicialmente, quanto tempo pode demorar uma psicoterapia e quais os resultados que iremos sentir após X sessões. Isto não invalida as pequenas mudanças que vão ocorrendo em nós, de dia para a dia, à medida que começamos uma psicoterapia. As mudanças podem ser mais subtis, mais evidentes e até avassaladoras, se assim o permitirmos e se houver essa necessidade. Existe uma grande componente técnica e especializada, por parte do psicólogo, mas o contributo de quem nos procura é a base do trabalho: a vontade, a motivação e a disponibilidade para a mudança influenciam em muito o percurso e os resultados terapêuticos.
O facto da psicoterapia ser um processo dinâmico e personalizado não significa que não existam regras gerais que devem ser explicitadas logo desde início e que servem, sobretudo, para um enquadramento (tecnicamente falando, o denominado setting terapêutico), uma consistência no trabalho desenvolvido (frequência e duração das sessões) e o comprometimento naquilo que é pretendido, garantido assim uma maior eficácia e durabilidade dos resultados obtidos.